domingo, 18 de abril de 2010

Corinthians e Juventus: histórias semelhantes se divorciam no quesito marketing esportivo

Dois dos mais tradicionais e queridos clubes da cidade de São Paulo comemoram aniversários com muito dinheiro de um lado e pouco de outro

Dois times de muita tradição em São Paulo. Duas realidades completamente diferentes. Um é o maior campeão paulista da história; o outro está atualmente na disputa da série A3 do mesmo campeonato. Um conta com a maior torcida do Estado; o outro é considerado por muitos o segundo time de coração. Um possui o maior patrocínio do futebol brasileiro; o outro mantém as contas em dia a partir do pagamento de mensalidade dos seus associados. Um comemora neste ano seu tão esperado centenário; o outro celebra 86 anos de existência sendo um dos clubes mais queridos de São Paulo. De um lado, o Corinthians; do outro, o Juventus. Dois clubes com muita história para contar, mas que passam por momentos distintos.

O Corinthians vive aquele que pretende ser o ano mais importante de sua história e o mais esperado por sua torcida e integrantes: em setembro, completará 100 anos de existência. Uma série de atividades vem sendo realizadas por conta desta comemoração, que demanda altos investimentos. Dentre as ações planejadas pelo time do Parque São Jorge podem-se citar o Cruzeiro do Centenário (realizado entre os dias 25 e 28 de fevereiro passado); a instalação de relógios que fazem a contagem regressiva para a data comemorativa; participação do clube na Stock Car com um carro totalmente customizado e pilotado por Ricardo Zonta; além de diversos produtos alusivos à data destinados aos torcedores. “Nossa ideia é triplicar o faturamento de produtos licenciados para 2010, chegando a R$ 900 mil mensais. Existem 60 lojas oficiais pelo Estado, criamos ações para atrair o torcedor e reunimos dois atletas que dispensam comentário, que são o Ronaldo e o Roberto Carlos”, disse o gerente de marketing do clube, Caio Campos.

Para 2010, o clube fechou o maior patrocínio do Brasil para bancar sua festa. A Hypermarcas desembolsou a cifra de R$ 41 milhões para estampar a marca de seus produtos na camisa dos jogadores durante o ano. Além do grande apelo popular que o Corinthians possui – o que reflete em grandes audiências e, consequentemente, maior exposição da marca patrocinadora -, o ano do centenário prevê diversos eventos com vistas a potencializar a importante data. Isso explica o fato da Hypermarcas ter investido tamanha quantia para ter sua marca associada ao Corinthians.

Enquanto isso, no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo, o Juventus, conhecido por “Moleque Travesso”, se prepara para comemorar 86 anos de vida. Será de forma modesta, com um jantar dançante no dia 20 de abril e uma programação de atividades na sede do clube. Mesmo sem grande visibilidade na mídia – disputa atualmente a série A3 do Campeonato Paulista – o Juventus é muito querido pelos paulistanos. E isso tem uma explicação. “A principal característica do Clube Atlético Juventus é o fato de se manter tradicional e até de certa forma conservador, como na época do futebol romântico. Criou-se a tradição dele ser o segundo time de todas as torcidas e isso vem se mantendo ao longo do tempo, apesar de que, ultimamente, muitos jovens vêm se juntando à torcida juventina, fazendo questão de torcer unicamente para o clube”, explica Ângelo Agarelli, assessor de comunicação da presidência. O time da Mooca não possui um histórico de grandes conquistas no futebol. O título mais importante foi o Torneio do Japão, em 1974. No âmbito nacional, a conquista de maior relevância foi o da série B do Campeonato Brasileiro, em 1983.

Como mencionado, o Corinthians possui atualmente o maior valor de patrocínio de que se tem registro no futebol brasileiro. O Juventus vive uma realidade oposta, como relata Agarelli. “No ano passado, o clube foi rebaixado para a série A3 de futebol paulista. Nessa série, é muito difícil despertar o interesse de empresas em termos de captação de patrocínio. A Diretoria que tomou posse no início deste ano encontrou o clube nessa situação e sem qualquer contato ou perspectiva para a obtenção de parceiros. Por outro lado, estabeleceu como uma de suas principais metas a profissionalização da área de marketing, que já está sendo montada. Espera-se que, com essa ênfase, boas soluções possam ser encontradas ao longo do ano”.
Desde 2008 o Corinthians vem realizando um trabalho forte de marketing, principalmente por meio da contratação de grandes jogadores e ídolos do futebol brasileiro. Nomes como Ronaldo e Roberto Carlos são reconhecidos em qualquer parte do mundo, independentemente do time pelo qual atuem. Desta forma, o Corinthians conseguiu uma visibilidade importante no exterior por ter repatriado esses atletas e colocá-los novamente em foco. No Juventus não há essa política de grandes contratações, até porque os rendimentos do clube não permitem que esse tipo de ação seja realizada. “Nos últimos anos o Juventus tem resumido suas atuações praticamente ao Campeonato Paulista e à Copa Federação (ou Copa Paulista). Assim, como praticamente todos os clubes em situação semelhante, os jogadores são contratados especificamente para esses campeonatos, com contratos de curta duração, além de eventuais aproveitamentos de jovens formados nas equipes de base”, esclarece o assessor.

Além disso, Agarelli destaca a dificuldade que um clube sem grandes investimentos em marketing tem para se manter na ativa. “No caso do Juventus, os estatutos não permitem transferir recursos decorrentes das contribuições dos sócios para o futebol profissional. Há alguns anos, uma importante fonte de receitas era a venda de jogadores revelados nas categorias de base. Porém, com o advento da Lei Pelé, essa possibilidade se tornou inviável. A tendência que eu vejo é a de só se viabilizarem financeiramente os chamados clube-empresa”. De que maneira, então, o Juventus consegue manter a sua sede social e o estádio? Ele explica que a principal receita voltada para manutenção das dependências do clube é obtida com a venda de títulos associativos e das mensalidades pagas pelos sócios. Uma outra grande fonte de receita decorre do aluguel de espaços, principalmente o salão de festas e a boate, sendo que boa parte destes recursos cobrem as despesas do futebol.

Assim como o clube do Parque São Jorge, o Moleque Travesso é conhecido como um grande celeiro de craques. Lançou para o futebol brasileiro grandes nomes como Wellington Paulista (Santos), Nenê (Palmeiras), Alex Alves (Cruzeiro), Thiago Mota (Barcelona), Preto (Santos), Alex (Chelsea - Seleção Brasileira), Hercules (Corinthians – Seleção Brasileira), Brandão (Corinthians), Renato (Portuguesa), Pinga (Vasco), entre muitos outros. Ângelo Agarelli relembra o principal ídolo do Juventus. Ao longo destes 86 anos, o Juventus teve muitos ídolos, mas o jogador-símbolo do clube foi o zagueiro Clóvis Nori, que foi merecedor de um busto logo na entrada do estádio Conde Rodolfo Crespi.

Para este ano do centenário, o Corinthians planeja grandes conquistas, em boa parte para justificar os altos investimentos feitos na contratação de nomes de destaque e nas ações comemorativas. Já o Juventus tem metas mais modestas e fincadas na realidade vivida pelo clube. “A Diretoria sabe que precisa ir em busca de parcerias fortes que possam trazer recursos suficientes para a montagem de um bom elenco que permita ao Juventus voltar inicialmente à série A2 e, posteriormente, à A1 do Campeonato Paulista e, a partir daí, almejar vôos mais elevados. Paralelamente, o plano é montar uma estrutura mais adequada para as categorias de base”, conta Agarelli. Mas há algo de que o torcedor do Juventus pode se gabar quando conversar com um corintiano: o Moleque Travesso possui seu próprio estádio, situado na Rua Javari, enquanto o rival, mesmo com 100 anos de existência, não tem qualquer perspectiva de ver esse sonho realizado – o Parque São Jorge, no Tatuapé, não tem espaço suficiente. O torcedor juventino tem, sim, muitos motivos para sorrir e comemorar com orgulho os 86 anos de seu clube do coração.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O dever de cada um no cumprimento do Estatuto do Torcedor

O futebol no Brasil não é visto apenas como uma modalidade esportiva. É, também, um fenômeno que envolve questões emocionais, sociais e culturais. A partir dessa constatação é possível entender a conturbada relação do torcedor com seu objeto de adoração – o clube de futebol. Tendo em comum essa paixão pelo time foram criadas as chamadas torcidas organizadas.

Há nessa relação uma dicotomia evidente. A passionalidade que envolve as disputas esportivas, em especial o futebol, gera conflitos violentos por conta de maus resultados ou frustração de expectativas. O amor pelo clube, em questão de segundos, se transforma em ódio. São duas faces de uma mesma moeda. E as manifestações de descontentamento ou de extrema felicidade geralmente tomam proporções que passam a se tornar problemas de segurança pública. Visando estabelecer regras, direitos e deveres dos torcedores, em 2003 entrou em vigor a lei 10.671, mais conhecida como Estatuto do Torcedor, o qual veio delimitar a condição de torcedor, seus direitos e deveres perante os clubes e ainda punir estes e os torcedores responsáveis por alguns atos definidos como crime.

O Estatuto conceitua o torcedor como qualquer pessoa que se associe, aprecie ou apóie entidade desportiva em todo território nacional e o equipara a um consumidor. Sendo assim, o torcedor que frequenta estádios ou qualquer local onde se tenha manifestações esportivas, tem direito à segurança antes, durante e depois dos eventos esportivos. A responsabilidade, usando como base o Estatuto do Torcedor, cabe à entidade desportiva e seus dirigentes detentores do mando de campo.

Sobre esta determinação recai a grande parte das discussões acerca do Estatuto. A violência que hoje está presente nos estádios brasileiros é, para muitos, culpa das torcidas organizadas. Pois estas protagonizam episódios de selvageria quando encontram torcedores de outras equipes e, às vezes, até mesmo entre torcedores do mesmo time, mas pertencentes à organizadas distintas. O Ministério Público Federal já cogitou extinguir por completo as torcidas organizadas como justificativa que seria a única maneira de cessar a violência em estádios. No entanto, esta pode não ser a solução, pois criminosos e marginais continuariam a frequentar estádios, somente sem a vestimenta característica da organizada.

Uma das soluções seria identificar esses torcedores de maneira digital por meio de um cadastramento prévio, controlado pelos clubes e, quem sabe, pelo governo para evitar que os marginais travestidos de torcedores atrapalhem o divertimento daqueles que vão ao estádio para realmente torcer pelo seu time de coração. Dessa forma – e implantando um sistema de catracas eletrônicas para esse reconhecimento – se evitaria a presença desses torcedores violentos nos espaços destinados à prática do esporte. Além disso, as torcidas organizadas deveriam ser tratadas como pessoa jurídica, sendo diretamente responsabilizadas pelos crimes cometidos por qualquer um de seus membros. Os inimigos da ordem podem alegar que cada ser humano é responsável pelos seus atos e que é praticamente impossível controlar as atitudes de todos os torcedores de uma organizada, mas somente desta forma parece ser possível reduzir a quantidade de marginais que frequentam esses locais com a desculpa de torcer por um time de futebol.

Através de medidas mais pró-ativas, como a exemplificada acima, ao invés das reativas utilizadas atualmente e,a necessidade constante de moção policial, os eventos esportivos seriam mais seguros e não demandariam tantos gastos e problemas para garantir o direito à segurança do indivíduo previsto no Estatuto do Torcedor.

E, infelizmente, tais fatos são tão rotineiros que em jogos disputados por times de grande rivalidade, por exemplo, não raro é possível notar o grande número de policiais desviados de suas funções originais – no caso garantir a segurança dos cidadãos nos municípios em que vivem – para acompanhar comitivas de torcidas organizadas. Para resolver esse problema, a solução poderia ser criar batalhões específicos para esse tipo de trabalho. Policiais devidamente treinados para lidar com essas situações. Não se pode abrir mão do direito de um cidadão em detrimento do outro, já que, o direito à segurança está previsto, antes de mais nada, na Constituição Federal do Brasil.